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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sobre as Corporações - DELGADO DE CARVALHO HISTÓRIA GERAL Volume II IDADE MÉDIA

DELGADO DE CARVALHO HISTÓRIA GERAL Volume II IDADE MÉDIA
Sobre as Corporações
Quanto às atividades urbanas, o quadro é diferente e parece constituir-se espontaneamente e empiricamente, tornando-se natural mas necessária a sua organização nos domínios da indústria e do comércio, atuando aí também o interesse coletivo e o imperativo da comunidade.
"O artesão, diz J. Maillet, é um pequeno empreiteiro independente que trabalha com o seu capital, sua matéria-prima (muitas vezes fornecida pelo freguês), seu aparelhamento, em local seu e empregando alguns operários (companheiros) que renumera e aprendizes que ele forma".

O ambiente da oficina doméstica é limitado, sua produção é pequena, não há nem divisão de trabalho nem especialização. Mas as aglomerações urbanas exigem maior produção: tendo desaparecido as oficinas domaniais, é ao artesanato das cidades que cabe suprir as necessidades urbanas cujo âmbito se vai alargando. Nestas condições, as situações criadas espontânea e desordenadamente precisam encontrar soluções viáveis: aí se impõe o interesse coletivo ao qual se devem dobrar os misteres. A solução que satisfaz, ao mesmo tempo, os interesses da freguesia e do artesanato é a Corporação.
Em cada cidade, todos os artesãos do mesmo ofício ou da mesma "arte" constituíam uma associação, análoga aos sindicatos modernos porém com a diferença de ser obrigatória a incorporação de todo artesão, não lhe sendo permitido o exercício de sua profissão fora da Corporação. Era uma sociedade de socorros mútuos com caixa alimentada pela contribuição de seus membros. As atividades da Corporação estavam associadas às cerimónias religiosas da época: um santo escolhido lhe servia de patrono; nas igrejas ou capelas, tinha. o seu altar e nas procissões exibia seu estandarte. A Corporação era dirigida por chefes eleitos, tinha seus jurados, seus síndicos e peritos. Eram minuciosos os seus regulamentos, que Etienne Boileau, no tempo de São Luís, compilou no "Livro dos Ofícios",
Em qualquer ofício, a carreira do artesão era iniciada pela aprendizagem, mais ou menos longa segundo os regulamentos. O aprendiz era alojado e alimentado pelo mestre, seu patrão. De aprendiz passava a companheiro (camarada ou operário). Mais tarde, podia-se tornar patrão por sua vez, se fosse aprovado em exame perante os jurados da Corporação, ao fazer uma peça, um objeto de sua profissão segundo as normas estabelecidas.
As condições de trabalho eram determinadas nos regulamentos da Corporação. Não devia ser executado à luz artificial; a oficina era, em regra, aberta sobre a rua, a fim de ser vista e controlada por todos: as visitas dos inspetores eram frequentes para não serem burladas as regras impostas; as infrações eram multadas e não eram poucas as questões que surgiam perante a justiça da Corporação.
O sistema incontestavelmente era uma garantia de boa qualidade da mercadoria que vinha com a marca da Corporação; estava salvo o interesse do consumidor. Era, entretanto, uma estagnação da técnica e da produção; não podia haver progresso, qualquer alteração, mesmo no sentido de melhorar, era tida por suspeita. Os abusos dos artesãos-mestres, na manutenção de seus privilégios, na perpetuação da desigualdade pelo afastamento dos companheiros hábeis, aos quais era recusado o mesteiral, comprometiam a instituição e a levaram à decadência. Durou, entretanto, ainda vários séculos.
Entregue aos cuidados da agricultura e da criação, as zonas rurais passam a receber das cidades os produtos fabricados que lhes são necessários. Há, pois, um jogo natural que torna estes dois ambientes complementares desde a Idade Média. Mas o mercado urbano apresenta ainda outras vantagens no intercâmbio económico. A presença direta do produtor rural e do consumidor urbano no mercado da cidade dispensa os intermediários.

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